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Seus últimos anos...

Depois da Revolução de julho de 1830, um monarca novo, mais liberal, ocupou o trono francês. Contrariamente às suas previsões, seis anos antes, Carlos X foi expulso da França e seu primo Louis-Philippe se tornou rei da França. Marie-Anne Le Normand era monarquista, mas parece ter sido apoiadora dos antigos Bourbons. Sua fama estava minguando, também,  apesar do apoio de Guizot, um dos mais influentes ministros do governo e Émelie de Girardin, uma dos principais nomes da imprensa. Ela, també, converteu Narcisse-Honoré Cellier du Fayel, um próspero advogado que queria encontrar-se com a ‘charlatã’. Cellier du Fayel foi convencido por seus oráculos e, em pouco tempo, tornou-se seu confidente e biógrafo.

Na sua Biografia de 1843, Francis Girault nos conta como, em 1835, chegou à sala de consulta de Mlle Le Normand uma mulher velha e pobre, desconhecida por ela. A mulher confessou ser a viúva de Fouquier-Tinville, o sinistro promotor público da Revolução Francesa que foi guilhotinado em 1795. Claro que ela teve muito o que falar e seus escritos secretos era de grande interesse para a sibila. Mas esse vem a ser outra farsa: como lembra Alfred Marquiset, Mme Fourquier-Tinville morrera sete anos antes!

 

A veia literária de Marie-Anne Le Normand ainda não tinha se esgotado. Entre 1831 e 1833, quatro últimos livros foram lançados da sua ‘e de fábrica’ e muitos outros foram anunciados. Publicado em janeiro de 1831 e dedicado, L’ombre de Henri IV au palais d’Orléans (A sombra de Henri IV no palácio de Orleans [ex.: o Palais-Royal]) uma mistura chata de visões, diálogos e aulas de histórias e notas de rodapé para mostrar o quão precisa era a sua previsão de eventos de 20-22 de dezembro e que deveriam ter aparecido em 20 de dezembro de 1830. Se tivessem, poderíamos, finalmente, ter testado a as extraordinárias profecias de Olivarius, de 1542. Philippe-Dieudonné-Noël Olivarius, ela nos conta em suas notas de rodapé (2), página 16, escreveu 919 previsões até 1982. Ela se orgulha de ter comprado esse único manuscrito que foi caçado ‘em todas as bibliotecas’. O próprio para maravilhou-se. Cinco fólios são reproduzidos em L’onbre de Henri IV (pp. 18-28), com notas explicando o significado de ‘algumas velhas expressões francesas’.


Essa não foi a primeira vez que Mlle Le Normand falou sobre esse mago desconhecido. Ela já tinha publicado uma de suas previsões em 1820, noMémoirs historiques et secrets de l’imperatrice Joséphine. De acordo com ela, é Napoleão quem é mencionado na profecia de Olivárius para Marie-Anne em 1814. Mais fólios foram publicados nos próximos livros: um em Le petit homme rouge au château des Tulieries (julho, 1831), outro em Manifeste des dieux sur les affaires de France (janeiro, 1832) e os fólios 8 a 10 foram apresentados no último livro publicado por Mlle Le Normand, Arrêt suprême des dieux de l’Olympe, data em 28 de fevereiro de 1833.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Lenormand aproveita seu período de detençao para escrever

 

O ridículo ‘estilo literário antigo’ dos textos de Olivarius é tão obviamente forjado que Alfred Marquiset dedicou um apêndice inteiro para revelar esse ‘attrape-nigaud’ (codinome). Ele não só mostra que não qualquer verdade em nenhuma das afirmações de Le Normand, mas que o logro foi desenvolvido por outros escritores. Henri Dujardin, L’oracle pour 1840 (Paris, 1839), diz que conhece três pessoas chamadas Olivarius, das quais, um deixou um livro, Petri Joannis Olivarii Valentini de prophetia et spiritu profético liber, publicado em Basel, em 1543, para ser encontrado da Biblioteca Real sob inventário número Z 985. Você se surpreenderia se ouvosse que essa referência é falsa? Um dos outros dois, um Olivarius foi Philipe-Dieudonné-Noël, cujo texto é, atualmente, apresentado como um livro publicado em 1544 e intitulado Prévisions d’um solitaire, e um terceiro escreveu o celebrado ‘prophétie d’Orval’ (outra profecia forjada que foi publicada pela primeira vez o Journal des villes et des  campagnes de 20 de junho de 1839). Eugène Bareste deu mais crédito ao Olivarius em seu muito popular Prophéties: La fin des temps, avec une notice, do qual foram publicadas quatro edições, em 1840.

 

Le petit homme rouge au château des Tuileries; La vérité à Holy-Rood; Prédictions, etc (The little red man no castelo de Tuileries; A Verdade em Holy-Rood; Previsões, etc), publicados  em julho de 1831, introduzem um novo profeta: o Petit Homme Rouge (o Pequeno Homem Vermelho). Em 1831, Marie-Anne Le Normand  os conta que uma velha e curvada mulher apareceu no castelo de Tuileries laçando maldições contra os Bourbons. Ela era a encarnação da República de 1793. O Petit Homme Rouge estava lá e replicou. Sua longa fala revelou que era o organizador de todos os eventos passados desde 1789. Por que Louis XVI perdeu o torno? Porque Blondinet (‘loiro’), por entendermos ser esse seu nome, decidiu que o rei não mais poderia reinar. Quem protegeu Napoleão? O pequeno home vermelho, é claro! Os leitores dos Oráculos Sibilinos de Mlle Le Normand repararam que o pequeno homem vermelho tinha sido mencionado na obra (p.340).

 

De fato, Marie-Anne Le Normand não inventou o Petit Homme Rouge. Provavelmente, ela teve a ideia a partir de um curto folheto contra Napoleão, publicado em 1814 e intitulado Le petit homme rouge. As seis páginas descrevem a última assembleia de Napoleão encontrando-se em Tuileries e a chegada de um pequeno homem vermelho, um gênio aterrorizante, um ‘homem de fogo’, cujo contato queimava quem o tocava. Essa criatura infernal estava lá para levar Napoleão para o Inferno. O Petit Homme Rouge fez outra aparição algum tempo depois do livro de Mlle Le Normand. Messrs de Pixérécourt, Brazier e Carmouche escreveram uma peça com o mesmo nome: Le petit homme rouge, ‘folie-féerie romantique em quatre actes et na vaundevilles, imitée du genre anglais’ (Vaunndeville de quatro atos loucos e extravagantes, em estilo inglês), apresentada no Théâtre de la Gaieté, em março de 1832. A música era de Alexandre aventuras foram publicadas, anonimamente, em 1843 sob o título ‘Memoirs et prophéties du petit homme rouge, par une sybille [sic], depuis la Saint-Barthélemy jusqu’à la nuit des temps; como veremos mais tarde, Paul Christian iria ressuscita-lo num livro publicado em 1863: L’homme rouge des Tuileries.

 

Novas revelações e previsões foram publicadas em 1832 com o Manifeste des dieux sur les affaires de France: apparition de S.A.R. la feue Mm ela duchesse douairière d’Orleans (Marie-Louise-Adélaïde de Bourbon-Pentièvre), descendante de Louis XIV à son fils Louis-Philippe Ier, roi des Français, Révélations (Manifesto dos deuses sobre os negócios franceses: aparição de H.R.H. a última viúva de Orléans..., descendente de Louis XIV, para seu filho Louis-Philippe I, Rei da França. Revelações), publicado em 21de janeiro de 1832 por Mlle Le Normand, ‘editeur-libraire’, e Dondey Duprey père et fils, que foram os tipógrafos de parceiros de Mlle Le Normand desde 1824. Embora amparados por mais ‘feuliet’ das profecias de Olivarius, essas recomendações em fevereiro de 1833 sob o título Arrêt suprême des dieux de l’Olympe em faveur de Mm ela duchesse de Berry et de son filleul le duc d’Aumale d’Orleans (Henri Eugène-Philippe-Louis). Révélations, etc, etc. (Decreto supremo dos deuses do olimpo em afilhado, duque de Aumale-Orléans...) “Essa pequena brochura[ela nos avisa na contra-capa da folha de rosto] foi anunciado para 19 de novembro de 1832. Amigos não oficiais me fizeram retirar a promessa de adiar essa publicação até 28 de fevereiro de 1833. “Já basta, disse um deles, que você foi capaz de prever o nascimento do Duque de Bordeaux, o nobre heroísmo de sua mãe; é certo: Mme a Duquesa de Berry será resgatada de Blaye” ‘.
 

Mrie-Caroline, Duquesa de Berry tentou incitar algumas províncias contra Louis-Philippe, em 1832; ela foi detida e presa em Blaye, perto de Bourdeaux. Porém, uma vez mais Mlle Le Normand não previu o fim burlesco dessa ventura fadada ao fracasso. Ela não soube que a duquesa estava, secretamente, grávida – não de seu marido legítimo, uma vez que o Duque de Berry tinha sido assassinado em 1820. Em 1833, alguns meses após o livro ser publicado, a Duquesa de Berry deu a luz a uma filha inesperada que escandalizou muitas pessoas e descredibilizou a causa Legitimista por muitos anos. Poderia, muito bem, ter descredibilizado Mlle Le Normand uma vez que esse seria o seu último livro.

 

Todavia, muitos outros escritos estavam sendo preparados. Na lista onde registra seus trabalhos publicados, Marie-Anne Le Normand anuncia alguns novos livros por vir: Les mystères de Blaye, Jeanne d’Arc au Louvre, com o horóscopo da Duquesa de Berry, La sibylle à Londres, Louise Wilhelmine de Prusse, ou les infortunes d’une grande reine, com o qual já nos deparamos, Anecdotes historiques, politiques, etc. sur la reine d’Angleterre (Caroline-Amélie-Elisabeth de Brunswick); particularités secretes sur la princese Caroline d’Anglaterre, première épouse de S.A.R. le prince de Saxe-Cobourg, o qual jamais nos consolaremos de termos perdido, e, por último o há muito esperado Mémoirs historiques, politiques, souvenirs, confessions, correspondances secretes de Mlle Le Normand, cujos dez volumes, infelizmente nunca apareceram.

 

O renome de Mlle Le Normand, embora, provavelmente, em declínio, ainda chamava a atenção de alguns leitores da sorte. Em 1838, uma Mlle Brunet distribuía panfletos onde se apresentava como discípula de Mlle Le Normand. Marie-Anne manifestou-se, imediatamente, na la Gazzete des Tribunaux, lembrando seus leitores que ela não tinha alunos. Então, foi um simples adepte que publicou, em 1842, Le rèvèlateur du destin, ou Livre merveilleux des bramines, pour connaître le présent, le passé et l’avenir, par um apdete de Mlle Lenormand (O ilmuninador do destino, ou o Maravilhoso livro dos Brâmanes, de forma a saber o presente, passado e futuro, por um adepto de Mlle Lenormand). Uma coleção íntegra de oráculos legítimo catálogo da Bibliothèque Nationale atribuído a Aguste Martres.

 

O fim chegou em 25 de junho de 1843. Marie-Anne Le Normand faleceu em seu apartamento na rue de la Santé. Seu funeral, em 27 de junho, foi extraordinário. A igreja foi coberta com enfeites, o carro fúnebre foi puxado por quatro cavalos enfeitados e seguido por cem pessoas! Não restam dúvidas que essa cerimônia barroca foi cuidadosamente preparada. Foi um acontecimento importante no mundo da adivinhação: a terra tremeu e tudo saiu do lugar. A jogada de Mlle Le Normand reviveu o interesse em sua carreira e deu aos jornais boas razões para crônicas sarcásticas. Um longo artigo, por Jules Jain, apareceu no sério Journal des Débats (de julho de 1843), outro por Léo Lespès no seu concorrente Le Constitutionnel (suplemente de 16 de julho). Le Charivari, Le Globe e pelo menos outros três publicaram artigos sobre sua vida. Antes de julho acabar, foram publicadas biografias que analisamos no começo do capítulo. A lenda se cristalizou e um exército de ‘alunos’, ‘adeptos’ ou discípulos foram rápidos em se rivalizar.

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