
Éliphas Lévi, sacerdote, radical, mago
Éliphas Lévi, sacerdote, radical, mago
Texto de James W. Revak
publicado em www.villarevak.org
Tradução de Alexsander de Abreu Lepletier
O Essencial:
Éliphas Lévi (1810-75) (pseudônimo de Alphonse-Louis Constant), Ocultista francês e mago que iniciou o renascimento moderno da magia como caminho espiritual e desempenhou um papel central no desenvolvimento do tarô esotérico. Através de suas atividades e livros, ele impactou significativamente outros importantes ocultistas, incluindo os tarólogos.
Destaques de sua carreira:
1835: Foi ordenado diácono.
1841-42: Cumpre oito meses de prisão por escrever e publicar um livro que prega “impiedade e subversão”..
1854: Evoca o lendário e ancestral mago Apollonius de Tyana em uma aparição física, segundo seu próprio relato.
1854-55: Publica Dogme et rituel de la haute magie (Dogma e ritual da alta magia).
1960: Publica Histoire de la magie (História da Magia).
Dizeres memoráveis:
“O que procuras, portanto, da ciência dos magos? Ouse formular o seu desejo e, então comece a trabalhar de uma vez, e não pare de agir da mesma forma para o mesmo fim; o que deverá acontecer...”
Dogme et rituel de la haute magie [Dogma e ritual da alta magia]
Éliphas Lévi, o candidato a padre
Alphonse Louis Constant, filho de um pobre sapateiro, nasceu em Paris em 1810. Somente mais tarde adotou o nome de Éliphas Lévi.
Era um aluno brilhante e dedicado, devoto católico com uma inclinação para o misticismo; entrou no seminário Saint Sulspice, onde foi instruído para o sacerdócio e ordenado como diácono em 1835. Seus primeiros deveres como membro do Clero incluíam instruir as moças do que viviam nos arredores do seminário no catecismo. Ele logo se apaixonou por Adèle Allenbach, uma das quais era responsável. Embora sua relação tenha permanecido platônica, mudou a vida de Constant para sempre.
Ele escreveu em seu livro Chansons et Poésies [Canções e Poesias]:
“Minhas ideias caíram por água abaixo, eu não amava Adèle como se ama ama uma mulher – Adèle ainda era quase uma criança – mas através dela eu senti despertar em mim a imperiosa necessidade de amar; entendi que toda a religião em minha alma era baseada nessa necessidade, e eu não poderia fazer meus votos diante do altar de um culto frio e egoísta sem remorso.”
Ao contrário de relatos incorretos, ele nunca se tornou um padre, rejeitou da ordenação e deixou o seminário. Pouco tempo depois, sua mãe, viúva, suicidou-se deixando-o perturbado.


Radical, Artista, Escritor, Amante
Apesar disso, Constant tinha de ganhar a vida. Após um breve período como ator, ele lecionou na Escola Católica, e paradoxalmente assumiu a postura de “político radical” escrevendo o controverso livro La Bible de le Liberté [A Bíblia da Liberdade]. Em resposta, os tribunais condenaram-no por de pregar contra a fé, e de subversão, passando oito duros meses na prisão.
Após sua libertação trabalhou pouco tempo como artista em Choisy e mais tarde como assistente do clérigo da diocese de Evreaux, mas foi forçado a sair do posto quando o público descobriu que era o autor de La Bible de la Liberté.
Ao romper suas ligações com o clero, voltou a Paris. Continuou a escrever, sendo publicado ocasionalmente, e tomou como amante Eugénie C. (seu sobrenome permanece desconhecido). Ele a conheceu em Evraux onde ela trabalhava como assistente da diretora de uma escola de meninas. As coisas esquentaram quando, aos trinta e cinco anos, Lévi começou um caso de amor secreto com uma das alunas de Eugénie, Noémi Cadiot. Ele, finalmente, abandonou Eugénie e casou com Candiot em 1846. Três meses mais tarde, Eugénie, separada de Constant teve um filho seu que ele jamais veria.
Constant continuava a escrever livros incluindo textos religiosos. Mesmo a vida de casado e tendo passado um tempo na prisão, não acalmaram sua postura política radical
Ele, logo ganhou notoriedade por seus controversos tratados socialistas, e quando os tribunais julgaram-no culpado por provocar desespero e ódio entre as classes sociais, passou mais seis meses na prisão.
Mesmo após sua liberdade, Constant persistia em escrever obras polêmicas e publicou Le Testement de la Liberté (O Testamento da Liberdade) em 1848, ano que a revolução sacudira a França e muitos outros países Europeus. Nelas, ele assumiu uma postura revolucionária e mencionou a futura direção de sua ideias religiosas e metafísicas: “Nós queremos regenerar e universalizar o sentimento religioso através da síntese e explicação racional dos símbolos, de forma a constituir a Igreja Católica Verdadeira ou a associação universal dos Homens.”
Aqui estão alguns temas embrionários aos quais Lévi se ateria a maior parte do resto de sua vida:
a “Verdadeira Igreja Católica” (ex.: a verdadeira religião e associação da Humanidade) racionalmente compreendida através de uma simbologia sintética. A única coisa que faltou foi a menção clara à magia.
Uma a nova carreira, um novo nome
Em 1852 Lévi encontrou o famoso matemático e ocultista Hoene Wornski, que o influenciou fortemente o, já inclinado ao misticismo, ex-diácono. Em consequencia disso, seu interesse pelo ocultismo despertou.
Nessa época a grande tradição mágica Ocidental que vinha desde o Renascimento e, recentemente caíra em desprestígio geral; muitos Europeus letrados tratavam disso com escárnio e desprezo. Mesmo assim, Lévi estudou magia, apaixonou-se por ela e começou a adotar, o que descrevia como sendo a forma “hebraizada” de seu nome (pela qual seria mais conhecido): Éliphas Lévi.
Em 1853 a esposa de Lévi deixou-o por outro homem. Talvez, para se desligar da situação, Lévi viajou, no ano seguinte, para Londres, onde, segundo ele, invocou o antigo e lendário mago Apollonius de Tyana numa aparição física. Para tanto, depois de muitos dias de preparação, ele, usando vestimentas mágicas, entrou sozinho numa sala mobilhada como se fosse um templo. Queimou madeiras perfumadas em seu altar e evocou o mago, há muito falecido.
De acordo com ele “A fumaça começou a se espalhar, a chama fez com que os objetos que tocava tornarem-se desfocados, então apagou-se, a fumaça ainda flutuava branca, lentamente, sobre o altar de mármore, eu senti como se a terra estivesse tremendo, meus ouvidos e coração bateram forte...
Três vezes com os olhos fechados eu invoquei Apollonius. Quando abri os olhos havia um homem a minha frente, envolto da cabeça aos pés numa espécie de sudário que mais parecia cinzento que branco. Ele era magro, melancólico e sem barba...”

O Selo de Salomão
Ilustração de Éliphas Lévi para o seu livroDogma e ritual da alta magia
Alphonse Constant "Éliphas Lévi" em 1836
Desenhado por um amigo.
Fonte: